domingo, 25 de outubro de 2015

O CONSELHO DO FUNDEB NO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ E A DEMOCRACIA DA TERCEIRA VIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA

Dissertação de Mestrado de Marco Vinícius Moreira Lamarão (UFRJ - 2013)



Disponível também em: http://www.educacao.ufrj.br/dmarcolamarao.pdf

Uma imagem vale mais que mil palavras: a imagem de São João Batista de Itaborahy

Deivid Antunes da Silva

INEPAC

      Quem chega a Praça principal de Itaboraí se depara com um imponente prédio colonial: a Igreja Matriz de São João Batista [1]. Neste prédio, o devoto ou visitante que entra pela grande porta principal [2] recinto a dentro vê um conjunto retabilístico [3] muito importante. À esquerda, da nave da Matriz estão os retábulos de 2º tipologia do “estilo nacional” português do período barroco [4]. Já os do lado da epístola, isto é, da direita da nave são da 4º tipologia ou “novo estilo” (Estilo rococó) [5].
      No altar-mor está a imagem [6] do patrono da Igreja Matriz, São João Batista [7] em tamanho natural com uma grande riqueza de detalhes, pois o artista conseguiu expressar na madeira até veias humanas. Infelizmente por carência de fontes a autoria da imagem do patrono da Matriz de Itaboraí é desconhecida, porém por suas característica é possível perceber que foi esculpida no século XVIII e não se trata de manufatura nacional como observou Nancy Rabelo (2009) [8] . Além da rica policromia [9] a imagem de São João Batista era ornada com uma cruz proporcional ao conjunto artístico e uma auréola [10], ambos em prata dourada, que infelizmente levadas nos furtos de 1970 [11] e de 1984 [12].
      Ao observar a imagem [13], o espectador de hoje pode vislumbrar como um fiel do século XVIII via a imagem no sentido pedagógico da religião. Como a Igreja Católica, no cotidiano da prática da Fé poderia ensinar as massas se as mesmas eram absolutamente analfabetas? Para os seletos que tinham um pouco de letramento o acesso a uma bíblia na sua língua materna ainda era proibido e a interpretação dos textos sagrados cabia exclusivamente ao clero. Além disso, as missas eram no Rito Tridentino, ou seja, em latim.
     Diante disso, a Igreja Católica se valeu de uma tática usada por vários povos da antiguidade, sobretudo o Império Romano do qual herdou muitas características: trata-se do uso de imagens para representação de seus santos [14]. Em suma, diante da conjuntura do período, o interior das igrejas deveria representar a glória dos Céus e nada mais propício do que o uso de imagens para esse fim, sobretudo no barroco, onde a tipologia da Igreja Matriz de Itaboraí esta inserida.
    Essa imagem de São João Batista tem em seu conjunto a representação de um cordeiro que no judaísmo antigo era sacrificado para a purificação do fiel em ritual oferecido no Templo de Salomão em Jerusalém [15]. Na mão direita da imagem se vê uma bíblia que representa a doutrina pregada por João Batista. Na esquerda uma cruz proporcional à imagem. Nas demais representações do Santo há uma flâmula pendurada com uma inscrição em latim: “ECCE AGNUS DEI” que significa: “Eis o Cordeiro de Deus.” Esta frase é uma referência a fala de João Batista [16] em anunciar a vida de Jesus de Nazaré como o salvador do mundo, através do sacrifício do próprio Jesus que segundo a Tradição Cristã se imolou como cordeiro para purificação dos pecados de toda a humanidade.
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Deivid Antunes da Silva é Historiador e Professor de História na Rede Estadual de Tanguá.
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Fontes e Bibliografia:
[1] Sobre a Igreja Matriz de São João Batista ver o texto “A Construção da Igreja de São João Batista de Itaboraí” escrito pelo professor Me. Gilciano Menezes Costa disponível em: https://www.facebook.com/permalink.php… 5 067306&substory_index=0
[2] Atualmente a porta principal esta fechada por risco de acidentes.
[3] É uma peça de altar de madeira, mármore ou de outro material, com lavores, que fica por trás ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou em relevo.
[4] É o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América.
[5] Ver RIBEIRO, Luiz Marcello Gomes. Gritos e sussurros: a retabilística barroca de São João de Itaboraí. 1º Ed. – Rio de Janeiro: Ed. do autor, 2012, Capítulo IV.
[6] A imagem foi retirada do Altar-mor junto com as outras da Igreja devido ao trabalho de descupinização emergencial na década de 2010.
[7] Dentro dos Textos Sagrados e pela tradição Cristã, João era filho de Zacarias e Isabel, prima de Maria a mãe de Jesus de Nazaré. Foi um profeta e primo de Jesus. Morreu martirizado por decapitação. Recebeu o apelido de batista por batizar os fies com água para livra-los do pecado original.
[8] “ A ótima definição anatômica, as proporções exatas e domínio técnico desta escultura, demonstram ter sido executada por artista de formação exemplar. Detalhes como pés e mão, entre outros, demonstram estes dotes artísticos, situando com precisão ossos, veias, e músculos. O refinado acabamento ornamental demonstra o alto nível da encomenda, que contudo não possui olhos de vidro” IN: RABELO, N. R. M. A escultura religiosa fluminense e as Visitas Pastorais do Cônego Pizarro em 1794-1795. Tese de Doutorado apresentada a escola de Belas Artes da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009, citado por RIBEIRO, Luiz Marcello Gomes. Gritos e sussurros: a retabilística barroca de São João de Itaboraí. 1º Ed. – Rio de Janeiro: Ed. do autor, 2012, p. 130.
[9] Policromia é a arte feita com várias cores. É o emprego de várias cores no mesmo trabalho.
[10] Anel luminoso ou peça ger. de metal, circular ou semilunar, com que pintores e escultores freq. circundam a cabeça das personagens sagradas; nimbo, resplendor.
[11] FABRINO, Raphael João Hallack. Os furtos de Obras de Arte Sacra em Igrejas Tombadas do Rio de Janeiro (1957-1995). Dissertação de mestrado – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2012, p. 50.
[12] “O último furto ocorrido em 1984 se refere ao segundo furto na Matriz de São João Batista em Itaboraí. De acordo com as informações da reportagem foram levados da igreja cerca de Cr$ 20 milhões em objetos sacros de prata. Os seguintes objetos foram furtados: uma 42 coroa de São João Batista, uma chave de sacrário, duas âmbulas, duas tecas (cofres pequenos), uma coroa paroquial, uma coroa de Nossa Senhora de Fátima, um punhal de Nossa Senhora das Dores e um resplendor de Santo Antônio.” IN: FABRINO, Raphael João Hallack. Os furtos de Obras de Arte Sacra em Igrejas Tombadas do Rio de Janeiro (1957-1995). Dissertação de mestrado – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2012, p.41-42.
[13] Foto de Flavio Santos. Inventário de Arte Sacra Fluminense. Disponível em: http://www.artesacrafluminense.rj.gov.br/modules.php…#
[14] Sobre imagens sacras ver o Código de Direito Canônico Título IV, câns. 1187-1189. 42.
[15] Ver o texto o “Cordeiro de Deus”. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cordeiro_de_Deus
[16] Bíblia de Jerusalém. 1ª Ed. – 9ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2013 IN: Evangelho de João, cap. 1 , vers. 29. p. 1844.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Frei Vicente Bogard: “Lepra”, superação e altruísmo

Luiz Maurício de Abreu Arruda
Projeto Quissamã Memória Viva e Acervo Heitor Costa
      A prática de nomear logradouros quase sempre é identificada como distorção da legislatura municipal, porém, um olhar mais atento é capaz de evidenciar como esse processo é capaz de reproduzir a memória de personagens e fatos da história nacional e local. No entanto, é importante destacar que o tempo é capaz de diluir o significado das homenagens e torná-las pouco mais do que uma placa de rua.[1]
      Ainda que esse exercício demonstre a clara expressão de uma história positivista, que tem como grande pilar, privilegiar os grandes fatos e personagens, verificamos em algumas dessas “homenagens” a possibilidade de revisitar histórias de vida que realmente encantam devido a sua abnegação e dedicação ao semelhante. Nesse artigo trataremos de um sacerdote da Ordem Terceira Franciscana Secular , frei Vicente Bogard.[2]
      Frei Vicente foi capelão durante longo período na antiga Colônia Tavares de Macedo. Após ser diagnosticado com “lepra” (hanseníase), durante um período em que a principal política profilática do Estado era a internação compulsória, buscou tratamento na antiga Colônia e lá permaneceu mesmo depois de ser curado.[3]
      É interessante destacar a atuação constante desse religioso, pois sua vida está na confluência de dois municípios, Itaboraí e Quissamã. A primeira fotografia (esquerda) registra Frei Vicente ainda muito jovem junto de seus coroinhas em frente à Gruta Nossa Senhora de Lourdes em Quissamã [4], onde atuava como sacerdote. Na segunda fotografia (direita) trata-se do frei com aproximadamente 60 anos.[5]
      Caracterizado por uma pessoa de hábitos extremamente simples, frei Vicente era admirado por aqueles que o conheciam, devido principalmente a sua dedicação aos doentes e ao zelo e compromisso religioso. Em Itaboraí, sua atuação por aqueles que padeciam internados na Colônia Tavares de Macedo é algo presente na memória dos antigos ex-internos, que conviveram com o religioso. Aonde chegava já era rodeado por crianças que alegres o cercavam para ganhar doces e balas.[6]
      Participava ativamente junto à comunidade católica local e de outros municípios, buscando arrecadar fundos e donativos para aliviar o sofrimento dos doentes e de seus familiares. Através do elemento religioso, contribuiu na dissolução do forte estigma existente junto aos doentes, pois através das festas religiosas os “sãos”, movidos pela fé pelo sentimento de caridade, buscavam a Colônia através das atividades religiosas.
      Outra importante ação na Colônia Tavares de Macedo ocorreu no final da década de 1950, quando Frei Vicente liderou a campanha pela construção da Capela Nossa Senhora Aparecida, para facilitar o deslocamento dos doentes.[7] A construção ocorreu em um dos antigos pavilhões de internamento. [8] Essa campanha foi exaustiva, atraindo membros da comunidade católica, além da adesão de outros atores que buscaram sensibilizar a sociedade local da necessidade do novo templo para os doentes.
      Trabalhou até os últimos momentos de sua vida, quando já em idade avançada morreu tragicamente após descer do coletivo em Venda das Pedras, quando buscava atravessar a rodovia.[9]

Fontes e Bibliografia:

[1] DIAS, Reginaldo Benedito. A História além das placas: os nomes de ruas de Maringá (PR) e a memória histórica. In: Revista de História e Ensino, Londrina, v. 6, p. 103-120, out. 2000.
[2] Devido à presença marcante da Ordem Franciscana em Itaboraí, sugerimos a leitura de dois textos deste Projeto: COSTA, Gilciano Menezes. As relações escravistas no Convento de São Boaventura. Revista Tessituras, Nº6, Maio de 2015, p. 82-101. Disponível em: http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/…/artigo-publicad… e http://www.revistatessituras.com.br/arquivo/5.pdf . Ver também: COSTA, Gilciano Menezes. O Convento de São Boaventura (1925). História de Itaboraí: Pesquisa, Memória e Educação. 2015. Disponível em: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=432016303637154&id=351048125067306&substory_index=0.
[3] É importante destacar que após o final da Segunda Guerra Mundial, graças aos avanços da indústria químico-farmacêutica e das pesquisas laboratoriais, o uso das sulfas como principal terapia aos hansenianos começou a produzir resultados satisfatórios e com isso aumentou consideravelmente o número de altas. ARRUDA, Luiz Maurício de Abreu. “A nova Jericó maldita”. Um estudo sobre a Colônia de Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
[4] A Gruta Nossa Senhora de Lourdes foi construída em 1928.
[5] A fotografia da esquerda é datada de 1931 e foi gentilmente cedida pelo Projeto Quissamã Memória Viva. Agradeço pelas informações fornecidas por Helianna Barcellos de Oliveira, que muito nos auxiliou sobre a atuação do Frei Vicente em Quissamã. A fotografia da direita foi publicada no Jornal O Itaborahyense, nº2124, ano 73, 10 de janeiro de 1968.
[6] Para preservar os depoentes, utilizamos pseudônimos. Entrevista concedida ao autor pelo ex-interno Daniel em 9 de dezembro de 2013 e Jonas em 10 de janeiro de 2014 e Jornal O Itaborahyense, nº2397, ano 85, 27 de abril de 1977.
[7] Quando ainda não existia o tratamento poliquimioterápico (PQT), era comum em alguns casos(principalmente aqueles que não tinham resposta ao tratamento com as sulfas) a mutilação das extremidades do corpo do doente, principalmente dos membros inferiores, comprometendo assim a locomoção.
[8] Para saber mais sobre a primeira Capela da Colônia Tavares de Macedo: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=353940428111409&id=351048125067306&substory_index=0
[9] Segundo o depoimento da ex-funcionária Martha, da Colônia Tavares de Macedo, frei Vicente caminhava com certa dificuldade e talvez isso possa ter sido um dos motivos de seu acidente. Jornal O Fluminense de 22 de abril de 1977 e Jornal O Itaborahyense, nº2397, ano 85, 27 de abril de 1977.

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Luiz Maurício de Abreu Arruda é Professor de História na rede municipal de Rio Bonito e Mestre em História Política (UERJ). Autor da obra "A nova Jericó Maldita”:Um estudo sobre a Colônia do Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). Disponível em: http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/sear…/label/Textos

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Maria Inocência Ferreira: uma trajetória pela Educação em Itaboraí

* Luiz Maurício de Abreu Arruda

Fonte: Acervo Heitor Costa*

      Ao passarmos por um dos Colégios Estaduais mais antigos de Itaboraí, situado em Porto das Caixas, algo nos despertou a seguinte reflexão: Porque este colégio se chama Maria Inocência Ferreira? Afinal, qual teria sido a sua contribuição para o município? Foram esses questionamentos que nos levaram a buscar as pegadas dessa ilustre "desconhecida".
      Maria Inocência Ferreira é natural do município de Friburgo, porém, foi em Itaboraí que construiu sua trajetória, realizando sua principal vocação: Educar [1]. Aqui, fundou aquela que seria uma das primeiras instituições escolares privadas do município. Na fotografia em anexo(direita) podemos identificar o sobrado de belos traços arquitetônicos [2], localizada na Rua São João, em frente à CEDAE, mais precisamente em um dos lotes onde hoje está situado o Esporte Clube Comercial, atrás da Igreja Matriz de São João Batista na Praça de Itaboraí. Já na fotografia(esquerda), trata-se de nossa personagem quando foi homenageada em outubro de 1954 pela Secretaria municipal de Educação e Cultura [3].
      Segundo o relato de uma de suas ex-alunas, a senhora Guiomar Silveira Drumond Costa:

“(...) o colégio funcionava em um belo sobrado onde hoje é o Clube comercial. Era dona Maria inocência e sua sobrinha Amália Teixeira que ministravam as aulas e cuidavam de tudo. Tínhamos aula de Português, Ciências, Geografia, Matemática, Francês, Latim. Tínhamos também aulas de bordado e costura [4].”

      Além das disciplinas mencionadas, a depoente ainda menciona que a escola recebia meninos e meninas, e que “muitas aulas de religião eram ministradas, onde todos deveriam se confessar todos os dias.” Segundo ainda o relato, a professora, que era católica fervorosa, não abria mão dos princípios religiosos na educação, ainda que mantivesse o carinho para com seus alunos, algo peculiar a sua personalidade [5].
      Apesar de sua importante contribuição, Maria Inocência não foi à pioneira no que se refere à educação privada no município, pois contemporâneas a ela, também atuavam outras educadoras no município [6].
      Cerca de um mês após completar 85 anos, em 22 de novembro de 1954, ocorreu o passamento da educadora, provocando considerável comoção na cidade. Em seu funeral, conduzido por seu sobrinho, Monsenhor José Teixeira, pároco de Nova Friburgo e pelo Padre Hugo Montedônio Rego de Itaboraí, estiveram presentes as principais personalidades políticas da região deste período. Mesmo aqueles que rivalizavam no campo político partidário, estiveram presentes no cortejo fúnebre, pois reconheciam a contribuição de alguém que se dedicou exclusivamente à nobre tarefa de educar alguns dos filhos dessa terra [7].
      Poucos dias após seu falecimento, o Jornal O Itaborahyense, em parceria com a Secretaria municipal de educação e cultura, enviou para o Governo do Estado do RJ um pedido formal que pudesse homenagear a educadora, obtendo a seguinte resolução:
“Considerando que a professora Maria Inocência Ferreira prestou, durante longos anos relevantes serviços no magistério primário, decreto: Fica denominada Escola PROFESSORA MARIA INOCÊNCIA FERREIRA, a Escola PORTO DAS CAIXAS, no município de Itaboraí. Palácio do Governo, 19 de Janeiro de 1954. Gov. Ernani do Amaral” [8].

Fontes e Bibliografia:
*Agradeço ao graduando em História, Geovane Pires e a ex-diretora do Colégio Estadual Maria Inocência Ferreira, Sandra Maria da Silva Oliveira pela contribuição na pesquisa.

[1] Ainda que não contemple o conceito em sua totalidade, definimos que: educar é a ação de promover a educação, que compreende todos os processos, institucionalizados ou não, que visam transmitir determinados conhecimentos e padrões de comportamento a fim de garantir a continuidade da cultura de uma sociedade.
[2] Fotografia tirada em 1960. Acervo Heitor Costa.
Jornal O Itaborahyense, nº1810, ano 61, 18 de setembro de 1955.
[3] Jornal O Itaborahyense, nº1810, ano 61, 18 de setembro de 1955.
[4] Entrevista concedida ao autor pela ex-aluna Guiomar Silveira Drumond Costa em 03 de setembro de 2015.
[5] Idem.
[6] Paulina Rosa da Cunha Porto e Cecília Augusta dos Santos são referências nesse sentido.
[7] Jornal O Itaborahyense, nº1799, ano 60, 8 de dezembro de 1954.
[8] Decreto Executivo nº4634 de 19 de janeiro de 1954. In: Jornal Diario Carioca, nº7868, ano 26, 27 de fevereiro de 1954 e Jornal O Itaborahyense, nº1766, ano 60, 07 de fevereiro de 1954.


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Luiz Maurício de Abreu Arruda é Professor de História na rede municipal de Rio Bonito e Mestre em História Política (UERJ). Autor da obra "A nova Jericó Maldita”. Um estudo sobre a Colônia do Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). Disponível em: http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/…/a-nova-jerico-m…
 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Da Glória ao azar: uma capela e um político exilado

* Deivid Antunes da Silva

Fonte: Deivid Antunes da Silva (2015)

     O tema em questão é sugestivo e visa analisar um determinado espaço geográfico de Itaboraí que teve seu propósito alterado pela evolução do espaço-tempo e as relações políticas de um de seus proprietários de renome nacional. O foco deste texto é a capela de N. Srª da Glória do Engenho do Sumidouro e o Joaquim Gonçalves Ledo.
     À margem do COMPERJ, à esquerda da estrada para o acesso a Portaria Sul fica a Fazenda Sumidouro. Importante histórica e arqueologicamente, contudo renegada ao esquecimento pela memória coletiva local. A partir de análises de fontes documentais, cartográficas e do georreferenciamento, realizado junto com o pesquisador João Antônio Duarte da Graça Vieira, foi possível identificar que as ruínas localizadas na Fazenda Sumidouro são da capela de Nossa Senhora da Glória.
      Fundada, em 1746, pelo capitão-mor da vila de Santo Antônio de Sá [1], Francisco Antunes Leão [2], a capela de N. Sr.ª da Glória, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XX, funcionou como templo Católico de culto particular, numa relação de interesses que foi praticada no período Colonial e Imperial brasileiro, como analisou Gilberto Freire:“...a capela de engenho. Clero subserviente ao privatismo dos senhores, religião circunscrita à esfera das famílias poderosas...”[3].
      Porém, em data desconhecida por carência de fontes, a capela da Glória do Sumidouro ficou em ruínas, juntamente com a casa-grande e engenho e demais construções do complexo arquitetônico que lá existiu, carecendo atualmente de um profundo trabalho de prospecção e salvaguarda de material arqueológico.
      O complexo do Sumidouro em Itaboraí evoluiu do Sagrado para o âmbito científico, pois o local propicia um trabalho metódico de análise dos artefatos arqueológicos para a construção de conhecimento sobre os agentes sociais no tempo e no espaço daquele local.
Outro ponto que chama a atenção nas ruínas de Sumidouro no distrito de Sambaetiba é o que não está explícito nos afloramentos arqueológicos, mas sim na documentação localizada nos arquivos públicos. Me refiro à história de um de seus proprietários durante o século XIX. Seu nome era Joaquim Gonçalves Ledo [4]. Importante político [5] que, junto com José Mariano de Azevedo Coutinho [6]e José Bonifácio de Andrada de Silva, entre outros, articulou o dia do Fico e a Independência do Brasil em 1822.
     Após sua efervescente atuação política na Independência do Brasil e nos Governos Imperial e provincial do Rio de Janeiro, retirou-se pelas contrariedades da vida pública e da maçonaria, sobretudo por não entrar para a lista tríplice do Rio de Janeiro para o Senado Imperial, vindo a se “exilar” voluntariamente em seu Engenho do Sumidouro, falecendo no dia 11 de maio de 1847 de ataque cardíaco. Curiosamente a 6 de maio no mesmo ano, cinco dias antes de seu falecimento escreveu uma carta ao seu sobrinho informando que havia incinerado toda a documentação gerada por ele sobre a história da Independência do Brasil [7].
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* Deivid Antunes da Silva é Historiador e Professor de História na Rede Estadual de Tanguá.
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Fontes e Bibliografia:

[1] Requerimento de 14 de dezembro de 1756, do capitão de Ordenanças, Joaquim de Souza Rodrigues, ao rei [D. José], solicitando a patente de capitão-mor da vila de Santo Antônio de Sá do Rio de Janeiro que vagou por falecimento do capitão-mor Francisco Antunes Leão. Arquivo Histórico Ultramarino – Rio de Janeiro - Cx. 50, doc. 108.
[2] ARAÚJO, José de Souza Pizarro e – O Rio de Janeiro nas visitas pastorais de Monsenhor Pizarro: Inventário de arte sacra fluminense – Vol. 2 - Concepção e coordenação Marcus Antônio Monteiro Nogueira – 1ª Edição- Rio de Janeiro: INEPAC, 2008. p.147.
[3] Citado por Ronaldo Vainfas em Trópicos dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Campus, 1989 p. 16.
[4] Registro Paroquial de Terras da vila de Santo Antônio de Sá – nº 62, fl. 15 - Livro nº 77, 1854-1857 – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil. Disponível em: http://www.docvirt.com/ docreader.net/docreader.aspx?bib=REG_TERRA3&pasta&pesq.
[5] Joaquim Gonçalves Ledo nasceu na Cidade do Rio de Janeiro em 11 de agosto de 1781, filho de Antônio Gonçalves Ledo e Antônia Maria dos Reis Ledo, foi aos 14 anos para Universidade de Coimbra cursar Direito em Portugal como outros abastados de seu tempo. Ocupou diversos cargos importantes durante o Período Imperial brasileiro. Foi junto José Mariano de Azevedo Coutinho representante da Província do Rio de Janeiro no Conselho de Procuradores Gerais das províncias do Brasil; Deputado Constituinte de 1823; Deputado Geral entre 1826 e 1833; Conselheiro de Estado; maçom da Loja Maçônica Comércio e Artes; Deputado Provincial do Rio de Janeiro na Primeira Legislatura atuando decisivamente na votação da Vila Real da Praia Grande (Niterói) como capital da província em 1835. Vide MACEDO, Joaquim Manuel de – Anno Biographico Brazileiro –Rio de Janeiro: Typographia e Lithographia do Imperial Instituto Artístico, 1876. & SOARES, Emanuel de Macedo – Atas e documentos da Câmara Municipal de Niterói – vol. 3 –Niterói: Câmara Municipal de Niterói, 1995. p.36.
[6] José Mariano de Azevedo Coutinho era natural de Itaborahy. [7] MACEDO, Joaquim Manuel de – Anno Biographico Brazileiro –Rio de Janeiro: Typographia e Lithographia do Imperial Instituto Artítico, 1876. Op. cit p.340-341.

sábado, 15 de agosto de 2015

12º Festival Itambiense de Poesia (FIP)

Divulgando essa linda iniciativa:

No dia 31/10/2015, a partir das 19:30 hs, no Salão Paroquial de Itambi, ocorrerá o 12º Festival Itambiense de Poesia (FIP). Inscrições: 01 de Agosto à 01 de Outubro. Divulguem e Participem!!!
Fonte: Feliciano Pereira Barreto

A força do Amaralismo em Itaboraí

* Luiz Maurício de Abreu Arruda

CPDOC
     As imagens em destaque representam um momento importante da política fluminense em Itaboraí.
Trata-se de Ernâni do Amaral Peixoto, em plena campanha eleitoral para o Governo do Estado do Rio De Janeiro em abril de 1950. Discursando da sacada do Teatro Municipal João Caetano na Praça de Itaboraí. O “comandante” como era chamado, atraiu um grande público como evidenciado na segunda imagem, em que se nota ao fundo a Igreja Matriz de São João Batista.
    Itaboraí, assim como outros municípios do interior do Estado do Rio eram localidades que estavam sob o domínio do PSD , partido liderado por Amaral Peixoto, que soube aproveitar seu prestígio político conquistado no período que esteve a frente do executivo estadual fluminense durante o regime do Estado Novo (1937-1945). Os núcleos de resistência ao PSD estavam concentrados principalmente na capital (Niterói), entretanto o interior permanecia território livre ao pessedismo.
    O comício ocorreu em 16 de abril de 1950(domingo) e contou com grande mobilização do PSD local, em especial a família Andrade Leal que era na época uma das principais representações do partido em Itaboraí. Segundo o Jornal Folha de Itaboraí foi realizada grande mobilização para essa convenção, que durante o dia utilizaram caminhões para buscar parte da população nos distritos da cidade, fora aqueles que vieram a cavalo, bicicleta ou a pé.
    Ao chegar à cidade por volta das 15 horas, uma grande comitiva, liderada pelo então Prefeito João Augusto de Andrade, já aguardava na Praça. Após um breve descanso na residência do Prefeito, os integrantes dessa comitiva se dirigiram para o Teatro João Caetano, onde teve início a convenção pessedista sob a liderança do “comandante”, que em seguida faria o tão esperado comício.
    O jornalista Odyr de Barros aponta para mais de 4.000 pessoas presentes, afirmando ter sido esse o “Espetáculo jamais visto em Itaboraí”, entretanto essas informações devem ser relativizadas, pois se tratava de um correligionário do PSD, que ocupava inclusive o cargo de tesoureiro do partido local. O Jornal O Fluminense, que era o principal jornal da Capital e oposição a Amaral Peixoto, silenciou qualquer informação relativa à movimentação política do PSD em Itaboraí. Esse comício ocorrido em Itaboraí demonstra a força do “Amaralismo”, evidenciando que naquele período somente um candidato era capaz de reunificar a tumultuada política fluminense.
    O PSD foi o grande vitorioso no Estado do Rio, consolidando o retorno de Amaral Peixoto ao Palácio do Ingá. Com aproximadamente 75% dos votos válidos, impôs uma derrota considerável ao seu oponente José Eduardo Prado Kelly, candidato da situação, que contou com o apoio do Governador Macedo Soares, que havia rompido com o PSD e se filiado a UDN. Além da vitória de Amaral Peixoto, o PSD elegeu dois senadores e dez deputados federais contra quatro deputados da UDN, principal partido de oposição pessedista.
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Luiz Maurício de Abreu Arruda é Professor de História na rede municipal de Rio Bonito e Mestre em História Política (UERJ). Autor da obra "A nova Jericó Maldita”. Um estudo sobre a Colônia do Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). Disponível em: http://historiadeitaborai.blogspot.com.br/…/a-nova-jerico-m…
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Fontes e Bibliografia:
[1] Partido Social Democrático (PSD) surgiu após o fim do Estado Novo, a partir da influência de Getúlio Vargas. A primeira convenção nacional foi realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 17 de julho de 1945, ocasião em que foi apresentado o programa do partido e lançada oficialmente a candidatura de Dutra à presidência da República. Em outra reunião Amaral Peixoto foi escolhido para compor o diretório nacional, integrado ainda por outros interventores, entre eles Benedito Valadares, Ismar de Góis Monteiro, de Alagoas, e Agamenon Magalhães. Verbete PEIXOTO, Ernani do Amaral. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Acessado em 10\08\2015. (http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx)
[2] SOARES, Emmanuel de Macedo. História Política do Estado Rio de Janeiro (1889-1975). Niterói: Imprensa Oficial, 1987 e PANTOJA, Silvia Regina Serra de Castro. As raízes do pessedismo fluminense. A política do interventor: 1937-1945. Rio de Janeiro: CPDoc, 1992.
[3] Família Andrade Leal foi uma das principais lideranças políticas de Itaboraí, dominando o cenário político entre as décadas de 1940-1950. Seus principais atores foram: Antônio Leal Júnior, Margarida Andrade Leal e João Augusto de Andrade.
[4] Jornal Folha de Itaboraí, 20 de abril de 1950. Ano 2, nº93.
[5] ARRUDA, Luiz Maurício de Abreu. “A nova Jericó Maldita”. Um estudo sobre a Colônia do Iguá em Itaboraí/RJ (1935-1953). Dissertação de Mestrado em História Política, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
[6] SOARES, Emmanuel de Macedo e PANTOJA, Silvia Regina Serra de Castro. Idem.